terça-feira, 20 de outubro de 2009

Carta de Brasília: As mulheres na política e a política para as mulheres

AS MULHERES NA POLÍTICA E A POLÍTICA PARA AS MULHERES

A realização do II Seminário de Jovens Mulheres do PT consolida um processo de organização dentro do nosso partido. No primeiro encontro, em 2008, que teve por finalidade proporcionar um espaço formativo clássico sobre o feminismo e das lutas das mulheres no mundo, fomos capazes de acumular uma pauta comum de realização do debate de mulheres dentro do PT e em suas diversas instancias, o que permitiu uma forte unidade na aprovação da paridade de gênero no I Congresso da Juventude do PT.

Esta ação coletiva colocou na agenda das secretarias nacionais de Mulheres e de Juventude este espaço, que hoje se caracteriza como um importante ambiente de formulação e organização das jovens mulheres para fazer o enfrentamento ao machismo institucional e à não-autonomia das mulheres dentro do PT e na sociedade.

Entretanto, através da percepção de que a luta das mulheres vai muito além do combate ao machismo, neste segundo seminário nos debruçamos sobre demandas das mulheres que permanecem muito intensas na nossa sociedade e se desdobram em ações contra a lesbofobia, o racismo e na luta de classes.

Nosso desafio principal é compreender como estas opressões se desdobram a partir de nossas especificidades geracionais, ou seja, problematizar o fato de que esta dupla condição (ser jovem e mulher) intensifica as desigualdades nas relações de poder. É preciso conquistar as jovens mulheres para a nossa luta, criando as condições necessárias para envolvê-las e empoderá-las no cotidiano da vida partidária.

A articulação das jovens mulheres do PT que está nos diversos setores do movimento social, nas diferentes instâncias do PT e nas administrações públicas é um elemento fundamental para o fortalecimento das pautas específicas. Encontros como estes são essenciais para esta articulação e proporcionam as condições para que as demandas das mulheres sejam incorporadas ao cotidiano no partido e em suas diversas áreas de atuação.

Desta forma, o diálogo permanente entre as mulheres da juventude do PT com as secretarias de mulheres quebra paradigmas e cria as condições para a implementação de um novo comportamento nas relações de gênero nos espaços políticos.

Em 2010 o Partido dos Trabalhadores completará 30 anos, com uma nova direção que terá a tarefa de conduzir Dilma Roussef à presidência para dar continuidade e avançar ainda mais nas transformações econômicas, sociais e estruturantes iniciadas pelo governo Lula. E o país que queremos precisa ter na sua concepção de Estado uma plataforma feminista.

Ainda neste período, teremos uma série de agendas da JPT, nas quais é importante iniciarmos este processo de incorporação desta perspectiva feminista, qualificando e garantindo a participação paritária de gênero em todas as atividades da JPT. Do mesmo modo, as secretarias de mulheres devem empoderar as jovens, por meio de um recorte geracional na construção das suas agendas.

Os temas debatidos neste seminário – sexualidade e combate à homofobia, combate à violência contra a mulher, educação não-sexista e não-racista, mulheres negras, mulheres rurais, mundo do trabalho, legalização do aborto, saúde e mercantilização do corpo e da vida das mulheres – devem servir como ponto de partida para o desdobramento deste espaço nos estados e municípios e para a elaboração de uma plataforma das jovens mulheres para a disputa da sociedade.

Temos a compreensão de que a perversidade do cotidiano das mulheres é intensa e se reproduz nas relações sociais: trabalho, geração de renda, acesso à educação e as condições reais para que estes exercícios de cidadania plena sejam garantidos, com ampliação dos direitos das mulheres, a exemplo do numero de vagas nas creches; da inibição das ações preconceituosas às mulheres vítimas de violências, assim como àquelas que realizam aborto; tendo a compreensão de que a amplitude destas opressões são ainda maiores entre as jovens mulheres negras.

Reafirmamos nossa convicção de que não há socialismo sem feminismo.


Brasília, 20 de setembro de 2009.

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